OpenAI Fecha Novo Investimento Circular em Empresa de Saúde Mental Thrive Holdings
A OpenAI anunciou na segunda-feira, 1º de dezembro de 2024, que vai adquirir uma participação acionária na Thrive Holdings, empresa criada pela Thrive Capital especificamente para comprar e modernizar negócios tradicionais usando inteligência artificial. O movimento marca mais um capítulo na série de acordos circulares que vêm gerando debate no mercado de tecnologia.
O que é a Thrive Holdings e por que ela existe?
A Thrive Holdings foi criada em 2025 pela Thrive Capital com um objetivo claro: transformar empresas de serviços tradicionais através da IA. A empresa foi fundada este ano com um compromisso inicial de financiamento de US$ 1 bilhão, focando em aquisições seriais em setores como contabilidade e tecnologia da informação.
Joshua Kushner, fundador da Thrive Capital, deixou clara sua visão sobre essa nova abordagem. Segundo ele, historicamente a tecnologia transformou indústrias de fora para dentro, mas agora essa mudança de paradigma acontecerá de dentro para fora, com especialistas usando IA como ferramenta nativa.
A estratégia é conhecida no mercado como “roll-ups” – comprar várias empresas do mesmo setor e integrar suas operações para ganhar eficiência. Só que agora tem IA no meio.

Como funciona o novo acordo entre OpenAI e Thrive Holdings?
Pelo anúncio oficial, a OpenAI vai integrar equipes de pesquisa, produto e engenharia dentro das empresas da Thrive Holdings para aumentar velocidade, precisão e eficiência de custos. O foco inicial será em contabilidade e serviços de TI.
A parceria já conta com duas empresas no portfólio: Crete Professionals Alliance (contabilidade) e Shield Technology Partners (TI). A Crete já está usando IA para automatizar entrada de dados e processamento de impostos, permitindo que contadores dediquem mais tempo ao atendimento de clientes.
Brad Lightcap, diretor de operações da OpenAI, destacou a urgência dessa transformação: a IA está redefinindo como empresas são construídas e entregam valor para clientes.
Por que esse acordo é considerado “circular”?
Aqui começa a parte complicada. A Thrive Capital é um dos maiores investidores da OpenAI. Em outubro de 2024, a firma liderou uma rodada de US$ 6,6 bilhões que valorizou a OpenAI em US$ 157 bilhões.
A Thrive investiu US$ 130 milhões na OpenAI em 2022 a uma avaliação de US$ 29 bilhões, sendo a única proposta que a organização recebeu na época. Joshua Kushner também participou da rodada histórica de março de 2025 que levantou US$ 40 bilhões.
Agora, a OpenAI está investindo em uma empresa criada por seu próprio investidor. O dinheiro flui em círculo: Thrive Capital investe na OpenAI, que investe na Thrive Holdings, que comprará serviços da OpenAI para transformar suas empresas adquiridas.
A Bloomberg observou que esse acordo se adiciona a uma lista crescente de negócios circulares envolvendo a criadora do ChatGPT e seus apoiadores.
Quais são os outros acordos circulares da OpenAI?
A OpenAI tem histórico recente nesse tipo de estrutura. Vejamos alguns exemplos:
Acordo com Nvidia: A Nvidia concordou em investir até US$ 100 bilhões na OpenAI para ajudar a financiar a construção de data centers, com a OpenAI se comprometendo a preencher esses locais com milhões de chips Nvidia. O arranjo foi prontamente criticado por sua natureza circular.
Parceria com AMD: Sob os termos da parceria OpenAI-AMD, a OpenAI vai comprar chips da AMD por uma quantia não divulgada em troca do direito de adquirir até 10% de participação na gigante de semicondutores.
Relação com CoreWeave: A OpenAI recebeu US$ 350 milhões em ações da CoreWeave antes do IPO e recentemente expandiu seus contratos de nuvem com a empresa para até US$ 22,4 bilhões.
Esses acordos circulares são um problema?
As opiniões se dividem. Alguns analistas veem semelhanças preocupantes com a bolha das pontocom.
Durante o boom das pontocom na virada do século XXI, empresas de telecomunicações competiam para emprestar dinheiro a startups de internet para que comprassem seus equipamentos. Empresas como Cisco, Lucent e Nortel estenderam milhões, até bilhões, para financiar equipamentos de cabos e switches para firmas que depois faliram quando a bolha estourou.
Para alguns consultores de investimento, o acordo Nvidia-OpenAI é especialmente reminiscente dos anunciados antes do estouro da bolha das pontocom em março de 2000. Naquela época, o índice Nasdaq caiu 77% e eliminou bilhões de dólares em valor de mercado.
Jim Chanos, veterano investidor conhecido por suas posições vendidas, questionou a lógica desses acordos: quando a narrativa é que ‘a demanda por computação é infinita’, não é estranho que os vendedores continuem subsidiando os compradores?

Nem todos compartilham o pessimismo. Para a maioria dos acordos circulares anunciados recentemente, não aparecem as características típicas de bolhas, especialmente no que diz respeito à emissão de ações. Em uma bolha, esperaríamos ver empresas de IA vendendo ações, e a maioria desses acordos não envolve emissão de capital para acionistas externos.
Analistas da Morningstar observam que estão de olho nesses tipos de acordos, mas ainda não estão alarmados e os consideram transações sem conflitos de interesse. Afinal, OpenAI e CoreWeave precisam investir uma boa quantidade de seus fundos para comprar equipamento da Nvidia de qualquer forma.
O diferencial agora é que a Nvidia está “fechando o ciclo” ao investir de volta na OpenAI, criando uma relação circular que antes era unidirecional.
Como a Thrive Capital se tornou tão influente?
Joshua Kushner fundou a Thrive Capital em 2010, aos 24 anos. Ele é formado pela Harvard College em 2008 e pela Harvard Business School em 2011. Apesar do sobrenome famoso – é irmão mais novo de Jared Kushner, genro de Donald Trump – Joshua construiu reputação própria no Vale do Silício.
Kushner e Sam Altman, ambos com 38 anos, se conheceram por volta de 2011, quando Kushner estava lançando a Thrive e Altman aconselhava empresas para a aceleradora Y Combinator. Essa amizade de longa data foi crucial: quando Altman precisou levantar capital para a OpenAI em 2022, a primeira pessoa que ligou foi Joshua Kushner.
A Thrive Capital tem portfólio impressionante. A firma acumulou participações próximas a 10% em múltiplas empresas que agora valem bilhões, incluindo GitHub, Benchling, e Skims de Kim Kardashian, além de boa percentagem da Stripe.
Até 2024, a Thrive levantou um total de US$ 12,3 bilhões e tem quase US$ 25 bilhões sob gestão. A firma arrecadou US$ 5 bilhões em agosto de 2024, sua maior captação até então.
O que torna a estratégia de Kushner diferente?
Um segredo do sucesso de Kushner está em sua abordagem pessoal. Um fundador, Josh Miller da Browser Company, ficou surpreso quando Kushner devolveu uma parte do capital depois que ele separou sua startup da Thrive, porque era ‘a coisa certa a fazer’.
Chris Wanstrath, fundador do GitHub, resumiu bem: no Vale do Silício, você descarta pessoas gentis como fracas. É muito mais difícil ser gentil do que ser durão.
Kevin Systrom, cofundador do Instagram, lembra que quando tinha 28 anos e não conhecia ninguém no Vale do Silício, a única pessoa que estava consistentemente presente sempre que precisava fazer perguntas ou trabalhar em coisas, ou simplesmente como amigo, era Josh.
Quais são os números da OpenAI hoje?
A valorização da OpenAI tem sido meteórica. Em abril de 2025, a OpenAI levantou US$ 40 bilhões a uma avaliação pós-dinheiro de US$ 300 bilhões, que foi o maior acordo tecnológico privado da história. A rodada foi liderada pela SoftBank.
Em julho de 2025, a empresa reportou receita anualizada de US$ 12 bilhões, um aumento em relação aos US$ 3,7 bilhões de 2024. O crescimento foi impulsionado por assinaturas do ChatGPT, que alcançaram 20 milhões de assinantes pagantes em abril de 2025.
Mas nem tudo são flores. A empresa projeta perder US$ 8 bilhões em 2025 devido aos custos intensivos de computação necessários para treinar e executar grandes modelos de linguagem.
Olhando para frente, a OpenAI revisou para cima suas projeções de gastos de longo prazo, esperando agora queimar aproximadamente US$ 115 bilhões até 2029 – cerca de US$ 80 bilhões a mais do que as estimativas anteriores da empresa.
Em outubro de 2025, a OpenAI conduziu uma venda de ações de US$ 6,6 bilhões que valorizou a companhia em US$ 500 bilhões, tornando-se a empresa privada mais valiosa do mundo.
A OpenAI vai virar empresa com fins lucrativos?
Essa é a grande questão. A última rodada de financiamento em outubro de 2024 não foi na forma convencional de capital, mas na forma de notas conversíveis que devem ser reembolsadas com taxa de juros de 9% se a OpenAI não conseguir abandonar sua estrutura sem fins lucrativos até o final de 2026.
Há também uma condição adicional importante na atual rodada de financiamento da SoftBank: o dinheiro só fluirá totalmente para a OpenAI se a empresa for transformada com sucesso em uma organização orientada ao lucro, independente da Microsoft, até o final de 2025.
Em 28 de outubro de 2025, a OpenAI disse que havia convertido seu negócio principal em uma corporação com fins lucrativos, com a Microsoft adquirindo uma participação de 27% na empresa. A fundação sem fins lucrativos restante (agora conhecida como OpenAI Foundation) possui uma participação de 26%.
O que esperar para empresas de contabilidade e TI?
O foco inicial da parceria OpenAI-Thrive Holdings em contabilidade e TI não é aleatório. Essas funções executam processos de alto volume, baseados em regras e intensivos em fluxo de trabalho, onde a plataforma da OpenAI pode gerar benefícios imediatos.
A automação que a IA pode trazer para esses setores é significativa: desde entrada de dados até processamento de declarações fiscais, passando por suporte técnico e gerenciamento de infraestrutura de TI.
O trabalho estabelecerá um modelo repetível que pode se expandir por outras indústrias, segundo a OpenAI. A ideia é criar um blueprint – um modelo de negócio testado e comprovado – que possa ser replicado em outros setores tradicionais.

Conclusão: Inovação ou risco sistêmico?
O investimento da OpenAI na Thrive Holdings representa mais um passo na estratégia agressiva de expansão da empresa de IA. Se por um lado demonstra confiança no potencial transformador da tecnologia, por outro levanta questões legítimas sobre sustentabilidade financeira.
O tempo dirá se esses acordos circulares são genuinamente inovadores ou se estamos testemunhando a formação de uma bolha. O que está claro é que a OpenAI está apostando alto – muito alto – em sua própria visão de futuro.
Para empresas de contabilidade e TI, a mensagem é clara: a transformação digital não é mais opcional. A questão agora é se a IA realmente conseguirá entregar os ganhos de eficiência prometidos, ou se estamos apenas criando novas camadas de complexidade em negócios que já funcionavam razoavelmente bem.
Uma coisa é certa: com US$ 500 bilhões em valuation e acordos de centenas de bilhões em jogo, não há espaço para erro. O mercado está observando atentamente cada movimento da OpenAI e de seus parceiros. E a Thrive Holdings será um dos principais testes dessa nova estratégia.
FAQ – Perguntas Frequentes
O que são acordos circulares em IA?
Acordos circulares ocorrem quando empresas investem umas nas outras criando um ciclo de dinheiro. Por exemplo: a Thrive Capital investe na OpenAI, que investe na Thrive Holdings, que comprará serviços da OpenAI. O dinheiro flui em círculo entre as mesmas empresas.
Por que acordos circulares são controversos?
Esses acordos lembram práticas da bolha das pontocom nos anos 2000, quando empresas de telecomunicações financiavam startups de internet para que comprassem seus equipamentos. Quando a bolha estourou, muitas firmas faliram. A preocupação é que acordos circulares possam inflar artificialmente o mercado de IA.
Quem é Joshua Kushner?
Joshua Kushner é fundador da Thrive Capital, uma das principais firmas de venture capital dos Estados Unidos. Ele tem 38 anos, é formado por Harvard e construiu reputação investindo em empresas como Instagram, Stripe, Spotify e GitHub. É irmão mais novo de Jared Kushner, mas fez carreira independente no Vale do Silício.
Quanto vale a OpenAI atualmente?
Em outubro de 2025, a OpenAI foi avaliada em US$ 500 bilhões após uma venda secundária de ações, tornando-se a empresa privada mais valiosa do mundo. Essa avaliação superou a SpaceX de Elon Musk, que estava avaliada em US$ 400 bilhões.
O que é a Thrive Holdings?
A Thrive Holdings é uma empresa criada em 2025 pela Thrive Capital especificamente para adquirir e modernizar empresas de serviços tradicionais usando inteligência artificial. Foi fundada com US$ 1 bilhão em capital inicial e foca em setores como contabilidade e tecnologia da informação.
Principais Pontos Sobre o Acordo OpenAI-Thrive Holdings
- OpenAI adquiriu participação acionária na Thrive Holdings, empresa criada pela Thrive Capital para transformar negócios tradicionais com IA
- A Thrive Capital é um dos maiores investidores da OpenAI, liderando rodada de US$ 6,6 bilhões em 2024
- O acordo é considerado “circular” porque o dinheiro flui entre empresas conectadas pelos mesmos investidores
- O foco inicial será em empresas de contabilidade e TI, setores com processos repetitivos que a IA pode automatizar
- Críticos comparam esses acordos à bolha das pontocom, quando empresas de telecom financiavam startups que compravam seus equipamentos
- OpenAI tem histórico de acordos circulares com Nvidia (US$ 100 bilhões), AMD e CoreWeave
- A Thrive Holdings foi criada em 2025 com US$ 1 bilhão em capital inicial
- Joshua Kushner, fundador da Thrive Capital, construiu relacionamento de longa data com Sam Altman desde 2011
- OpenAI vale atualmente US$ 500 bilhões, sendo a empresa privada mais valiosa do mundo
- Apesar da receita de US$ 12 bilhões anualizados, OpenAI projeta perder US$ 8 bilhões em 2025
- A empresa precisa se tornar com fins lucrativos até final de 2025 para receber parte do financiamento da SoftBank
- O modelo da Thrive Holdings visa criar um blueprint replicável para transformação de indústrias tradicionais com IA


