Moçambique recebe proposta russa de cooperação militar contra grupos extremistas.

Moçambique enfrenta uma crise silenciosa há oito anos. Não é sobre economia ou educação. É sobre segurança.

Na província de Cabo Delgado, no norte do país, grupos armados vinculados ao Estado Islâmico atacam constantemente. Em 2024, apenas, mais de 349 pessoas morreram. Mais de um milhão de pessoas foram deslocadas de suas casas. Famílias perdidas. Negócios destruídos.

O governo de Moçambique busca soluções em todo o mundo. E agora, a Rússia entra nessa conversa.

Cooperação militar Rússia Moçambique acordo defesa

Cooperação militar entre Rússia e Moçambique ganhou novo momentum recentemente, com propostas concretas de compartilhamento de inteligência, capacitação militar e expertise em combate ao terrorismo. O embaixador da Rússia em Maputo, Vladimir Taravov, declarou a disponibilidade do seu país para partilhar a sua experiência com Moçambique para travar a insurgência armada em Cabo Delgado, garantindo ter “nomes dos terroristas” para partilhar através de uma base de dados informática.

Mas o que isso realmente significa? Quais são as implicações? E por que isso importa para você?

O que é a Cooperação Militar Russa com Moçambique?

Uma parceria antiga que volta à tona

Não é a primeira vez que Rússia e Moçambique trabalham juntas em assuntos militares.

Historicamente, após a independência de Moçambique em 1975, o país se alinhou com a União Soviética. Durante décadas, a União Soviética forneceu treinamento militar, equipamentos e apoio estratégico. Isto tudo faz parte da história.

Mas durante os anos 2000, essas relações esfriaram. Outras nações assumiram papéis mais importantes. A Rússia ficou mais distante.

Agora, em 2025, temos uma reviravolta. Com o conflito travado com a Ucrânia, a Rússia busca novas oportunidades de cooperação e parcerias em África, sendo Moçambique um parceiro importante também na vertente comercial e política.

O que Rússia oferece especificamente

Quando falamos em “cooperação militar”, não é genérico. É concreto.

Segundo oficiais russos, eles oferecem:

  • Compartilhamento de inteligência: Dados sobre líderes terroristas, localizações, redes.
  • Capacitação militar: Treinamento em táticas anti-terrorismo para forças moçambicanas.
  • Assessoria técnica: Ajuda na escolha de equipamentos, tecnologia e aparelhagens.
  • Experiência comprovada: Rússia luta contra terrorismo em Síria, Cáucaso e outras regiões.

Segundo o diplomata russo, a Rússia quer partilhar a sua experiência em como “derrubar” o terrorismo em Moçambique, referindo que tem “uma boa experiência da luta contra o terrorismo”.

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Por Que Moçambique Precisa Disso?

A crise de Cabo Delgado explicada simples

Imagine sua comunidade sendo atacada constantemente. Você não consegue sair de casa com segurança. Seus filhos não podem ir à escola. Seu negócio está fechado por medo.

É isso que acontece em Cabo Delgado.

Desde 2017, a província de Cabo Delgado enfrenta uma rebelião armada com ataques reclamados por movimentos associados ao grupo extremista Estado Islâmico, que chegaram a provocar mais de um milhão de deslocados e pelo menos 349 mortos só em 2024.

Entenda: 349 mortos em apenas um ano. Num lugar que era relativamente pacífico. E isso está aumentando, não diminuindo.

Por que os grupos extremistas estão lá

Cabo Delgado é rico em gás natural. Há dinheiro em jogo. Há também pobreza, falta de oportunidades e pessoas desesperadas que acreditam em ideologias extremistas.

Os grupos associados ao Estado Islâmico aproveitam essa vulnerabilidade. Recrutam locais. Criam uma base de operações. Expandem constantemente.

O Papel da Cooperação Militar

O que Moçambique está tentando

Moçambique já tentou várias coisas. Contratou mercenários privados (entre 2019-2020, inclusive russos). Pediu ajuda a outros países africanos.

Mais recentemente, Moçambique agradeceu ao Ruanda pela ajuda na luta contra o terrorismo, assinando acordos sobre o estatuto das forças de apoio à luta contra o terrorismo.

Agora, a Rússia entra com uma proposta estruturada.

Quando Rússia oferece “compartilhamento de inteligência”, significa o seguinte:

  1. Rússia tem bancos de dados de terroristas mundiais.
  2. Compartilha nomes, localizações, modos operandi.
  3. Moçambique usa isso para identificar alvos.
  4. Operações militares se tornam mais precisas.

O embaixador russo disse que seu país tem uma “base certa, informática, que contém os nomes dos terroristas e podemos compartilhar, podemos dar acesso a esta informação aos nossos parceiros”.

Isso não é ficção. É prática operacional.

Implicações Geopolíticas

Por Que Rússia Quer Estar Próxima de Moçambique

Rússia está isolada no Ocidente. Sanções econômicas. Diplomacia tensa. Mas em África? Diferentes.

Moçambique oferece:

  • Parceiro estratégico em continente africano
  • Acesso a recursos (gás, petróleo)
  • Presença militar ampliada
  • Contrapeso à influência Ocidental

Para Rússia, é investimento geopoliticamente inteligente. Especialmente agora quando está cortada do Ocidente.

O Posicionamento de Moçambique

Moçambique está numa situação delicada. Enfrenta ameaça terrorista real e urgente. Não pode se dar ao luxo de recusar ajuda.

Mas também mantém relações com Ocidente. Com Portugal, Estados Unidos, União Europeia.

Trabalhar com Rússia é equilibrismo diplomático. Pega ajuda onde consegue, mas sem alienar seus parceiros tradicionais.

Histórico da Cooperação Rússia-Moçambique

Uma longa trajetória de acordos

A cooperação militar entre Rússia e Moçambique não começou ontem. Tem história.

Os acordos incluem: Acordo de Cooperação em Defesa (1997), focado na reabilitação das Forças Armadas moçambicanas; Tratado de Amizade e Cooperação (2004), que incluía cláusulas sobre assistência militar; e Acordo de Cooperação em Matéria de Segurança (2018), centrado em combate ao terrorismo e crime organizado.

O que é novo agora é a intensidade. A cooperação em defesa e segurança entre Moçambique e países da antiga União Soviética e da Rússia está profundamente entrelaçada com contextos geopolíticos, desafios internos e regionais que os moçambicanos têm enfrentado ao longo de décadas.

Moçambique conhece como funciona trabalhar com Rússia. Não é algo completamente novo.

Desenvolvimentos Recentes: Abril a Outubro de 2025

Anúncios oficiais e compromissos

O ministro dos Negócios Estrangeiros russo, Sergey Lavrov, anunciou em junho de 2025 que Rússia pode ajudar Moçambique na sua defesa interna, confirmando “prontidão para considerar todos os pedidos dos nossos amigos moçambicanos sobre questões relacionadas com a necessidade de reforçar a sua capacidade de defesa e potencial antiterrorista”.

Depois, em outubro, o embaixador Taravov fez declarações ainda mais específicas sobre compartilhamento de dados e expertise.

Visitações Diplomáticas

Uma visita do Presidente Moçambicano Daniel Chapo à Rússia está sendo planejada. Putin já formulou o convite para reforçar a relação e ampliar as relações, não só políticas, mas também económicas.

Isto não é trivial. Uma visita de Estado de Chapo a Moscovo significaria formalização de parceria.

Reforço da Presença Militar Russa

Há sinais concretos de aprofundamento. O embaixador da Rússia apresentou um novo adido militar Sergei Sushentsov ao Ministro da Defesa Nacional moçambicano. O Ministro da Defesa expressou a prontidão de Moçambique para desenvolver cooperação técnico-militar com a Rússia, com atenção especial a segurança e combate ao terrorismo usando tecnologias avançadas.

Adidos militares? São oficiais que representam os interesses militares de um país. Sua presença significa negócios sérios.

Tabela Comparativa: Cooperação Militar Moçambique com Diferentes Atores

Ator/PaísTipo de ApoioFoco PrincipalPeríodoStatus Atual
RússiaInteligência, capacitação, assessoria técnicaAnti-terrorismo, defesa internaHistórico desde 1975, reativado 2025Proposta em desenvolvimento
RuandaTropas e operaçõesCombate direto ao terrorismo2022-presenteAtivo e integrado
PortugalTreinamento e cooperação técnicaModernização de forçasContínuoAtivo
Estados UnidosAssessoria, treinamento limitadoAntiterrorismoPontuaisLimitado
Mercenários privados (2019-2020)Operações diretasCombate armadoCurto prazoEncerrado

Perspectivas: O Que Vem pela Frente?

Cenários Possíveis

Cenário 1: Aprofundamento da Cooperação Cooperação militar se formaliza. Rússia fornece equipamentos, oficiais de ligação, inteligência regular. Moçambique melhora capacidade anti-terrorismo. Resulta em menos ataques.

Cenário 2: Cooperação Limitada Trocas pontuais. Compartilhamento de informações. Nenhum compromisso de longo prazo. Moçambique continua buscando múltiplos parceiros.

Cenário 3: Tensão Diplomática Potência ocidental critica parceria com Rússia. Pressão sobre Moçambique. Rússia recua. Cooperação estagna.

Qual é mais provável? Difícil dizer. Depende de eventos geopolíticos maiores.

Não é só sobre segurança. A ministra dos Negócios Estrangeiros e Cooperação moçambicana disse que o país quer atrair o setor privado russo, nomeadamente para a exploração de gás e petróleo, afirmando “Sentimos que temos que trazer o setor privado da Rússia para Moçambique”.

Há dinheiro envolvido. Gás e petróleo de Moçambique valem bilhões. Se Rússia conseguir contratos comerciais? É grande vitória estratégica e financeira.

A cooperação militar entre Rússia e Moçambique reflete mudanças maiores na geopolítica africana. Enquanto a Rússia busca novas oportunidades de cooperação e parcerias em África com o conflito travado na Ucrânia, Moçambique reconhece que não pode depender apenas de parceiros tradicionais.

A resposta militar ao terrorismo é essencial, mas incompleta sem abordagem holística. A segurança integrada requer multidisciplinaridade na resposta estratégica, envolvendo cooperação com múltiplos atores internacionais simultaneamente. Moçambique está aplicando essa lição ao engajar Rússia, Ruanda, Portugal e outros.

Além disso, o aspecto político-comercial da relação não pode ser ignorado, pois recursos energéticos de Moçambique (gás e petróleo) são moeda de troca em negociações geopolíticas contemporâneas. A cooperação militar é porta de entrada para acesso econômico.

Por fim, o histórico de cooperação entre Rússia e Moçambique desde a independência demonstra relação enraizada que transcende momentos isolados. Não é alinhamento acidental, mas estrutural em dinâmica onde elites militares e políticas moçambicanas foram em sua maioria formadas em instituições soviéticas. Compreender essa herança é essencial para entender por que Rússia não é escolha arbitrária, mas continuação de trajetória histórica.

Você vive em Moçambique e quer entender melhor como essa cooperação militar pode afetar sua segurança e futuro?

Compartilhe sua perspectiva nos comentários. Qual é sua opinião sobre essa parceria? Você acredita que vai ajudar a resolver a crise? Ou tem preocupações?

Conclusão

A cooperação militar entre Russía e Moçambique não é surpresa. É reconhecimento de que ambos os lados têm a oferecer: Moçambique precisa expertise antiterrorismo urgentemente. Rusia precisa de presença estratégica em Africa.

O que começou como anúncios diplomáticos em junho de 2025 está evoluindo para compromissos concretos: presença de adidos militares, promessas de compartilhamento de dados, planejamento de visita presidencial.

Mas a cooperação militar sozinha não resolve a crise de Cabo Delgado. É parte da equação. O resto envolve desenvolvimento econômico, educação, oportunidades para jovens que atualmente são alvo fácil para recrutamento extremista.

Moçambique está fazendo a escolha certa ao engajar múltiplos parceiros. Rusia, Ruanda, Portugal — todos têm papéis. A segurança verdadeira vem de abordagem multifacetada.

Os próximos meses dirão se essa cooperação consegue virar a maré em Cabo Delgado. Se conseguir, será modelo para outras nações africanas enfrentando desafios similares.